A Loucura ao longo da História
Post por Daniel Sousa. COMENTAR ou VOLTAR À PÁGINA INICIAL.

São muitas e variadas as alusões aos distúrbios mentais ao longo da escala temporal, que podemos encontrar em textos históricos, ou mesmo mitos de cariz ancestral.

Na mitologia Grega, deparámo-nos com o caso do herói grego Hércules. Segundo os relatos da sua epopeia, Hércules terá sido atacado pela loucura, por intervenção da deusa Hera, o que o levou a matar a sua esposa Mégara, e os seus filhos. Voltando ao seu estado normal, e horrorizado com os seus actos, Hércules procurou penitência no oráculo de Apolo, em Delfos, onde os fados lhe ordenaram que ficasse ao serviço de Euristeu, durante 12 anos, e nesse período o heróis realizou os famosos “12 trabalhos de Hércules”.


É notória aqui a presença da loucura como sendo causa da fúria divina, levando a actos paranormais que podiam eventualmente ser purificados através do labor.

Ainda na mitologia Grega, deparámo-nos com o caso de Ulisses. Reza o mito que este astuto navegador grego, durante a sua epopeia, terá tentado evitar uma penosa ida para a duradoura guerra troiana, fingindo-se de louco, colocando dois animais diferentes a lavrar a areia, um boi e um cavalo, enquanto semeava sal. Todavia, tamanha patranha haveria de ser descoberta por alguém igualmente astuto: Palamedes. Este colocou o pequeno filho de Ulisses, Telémaco, no local onde passaria o arado, forçando Ulisses a desviar a criança da dita rota, o que veio a provar que se encontrava totalmente são e na plena posse das suas faculdades.

Neste caso, a loucura passa a ser entendida como algo que pode ser simulado, e pré-meditado, dependendo das pretensões de cada indivíduo.

Analisando a Bíblia, encontrámos no livro de Samuel a seguinte passagem:” Sempre que o espírito maligno da parte de Deus vinha sobre Saul, Davi tomava a harpa e tocava. Então, Saul sentia alívio, e se achava melhor, e o espírito maligno se retirava dele” (Samuel 16:23).
Neste caso vemos a possibilidade do distúrbio mental aliado ao paranormal, ao sobrenatural, sendo este aspecto rectificado com a ajuda da musicalidade.
Ainda no Velho Testamento, em Daniel 4:33, temos o caso do rei Nabucodonosor, que foi castigado com a loucura, sendo expulso do convívio humano e passando a comer erva com os bois. O castigo durou sete anos.

Neste caso temos mais uma vez a intervenção divina como causa do distúrbio mental, que novamente foi rectificada com um período definido de tempo. Neste caso, o pagamento pelos vis actos consistiu na exclusão social, o que se começou a traduzir na associação nata deste conceito ao estado de loucura.

Séneca (escritor e intelectual do império romano), em Da Superstição, afirma: Uma vez por ano, é permitido fazer-se de tolo”.
Tal afirmação pode ir de encontro a um paralelismo social com a nossa sociedade actual, mais especificamente nos tempos de Carnaval.

Neste caso a loucura começa a assumir tonalidades mais levianas, principiando a assumir um carácter progressivamente mais integrante nas sociedades de então.

Unamuno (poeta e filósofo espanhol) afirma em Ensaios: Evolução Crítica: “Cada um tem o seu método, como cada um tem sua loucura; apenas aceitámos aquele cuja loucura coincide com a da maioria”.

Neste caso, a loucura é vista como um ponto de vista susceptível ao relativismo, chegando mesmo a ser comparada com uma opinião, que dependendo do seu grau de unanimidade é vista como estranha ou normal.


Erasmo de Roterdão (teólogo e humanista holandês), no seu notável Elogio da Loucura (1509), chega a afirmar ser a loucura o estado natural do Homem. Diz que não há sábio, filósofo ou cientista que não tenha tido no seu momento de loucura.


Mais uma vez, a loucura volta a ser tratada como um problema social comum, encarada sem dogmas ou limitações. É um estado ocasional, para Erasmo, que toda a gente experiencia, por mais alto que seja o seu estatuto cognitivo.


Nos vários exemplos supracitados, deparámo-nos com várias abordagens da loucura, dos distúrbios mentais ao longo da história, estando este conceito em permanente mutação, tendo em conta os factores sociais e grau de desenvolvimento de cada civilização, de cada cultura. Encarada inicialmente como obra divida, rapidamente esta problemática assumiu tonalidades diferentes, sendo progressivamente vista como algo não comum, mas também não abstracto, apenas como uma doença, que sendo um malefício, deve ser tratada.

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