De entre as várias doenças mentais, a depressão é talvez aquela que origina maior incapacidade crónica com graves consequências na saúde física e incapacidade social dos indivíduos.

De acordo com uma das equipas de cientistas, liderada por Martin Prince, do Institute of Psychiatry, King's College London, no Reino Unido, «cerca de 14% do peso global das doenças foi atribuído a disfunções neuropsiquiátricas, maioritariamente devido à natural incapacidade crónica da depressão e outras doenças mentais comuns, consumo de álcool e disfunções relacionadas com o uso de substâncias e psicoses», pode ler-se na The Lancet.

Apesar da grande percentagem da incidência de doenças neuropsiquiatras, os investigadores acreditam que os números são subestimados. O estudo indica que muitas doenças mentais, principalmente a depressão, têm uma relação directa com o surgimento de doenças físicas, levando a uma grave incapacidade crónica.

Mas para além da morbilidade que a depressão pode provocar, os cientistas indicam que as doenças mentais estão também relacionadas com altas taxas de mortalidade. Dados de 2005 da Organização Mundial de Saúde (OMS) revelam que as doenças neuropsiquiátricas estão na origem de 1,2 milhões de mortes anuais e 1,4% de anos de vida perdidos, principalmente devido a demência, Doença de Parkinson e epilepsia.

«Apenas 40 mil mortes são atribuídas às doenças mentais (principalmente à depressão unipolar e bipolar, esquizofrenia e stress pós-traumático) e 182 mil ao uso de drogas e álcool», escrevem os cientistas na The Lancet.

Os especialistas adiantam ainda que, «temos quase a certeza que estes números são subestimados, já que o estudo atribui a morte por suicídio a danos intencionais. Todos os anos, cerca de 800 mil pessoas cometem o suicídio, 86% dos quais nos países com baixos rendimentos e rendimentos médios e mais de metade situam-se entre os 15 e os 44 anos».

Os cientistas indicam que os países com menores rendimentos são os mais afectados pelas doenças mentais, sendo que são também aqueles que menos orçamento disponibilizam para o tratamento destas condições, ao ponto de um terço (31%) nem sequer ter orçamento público dedicado às doenças mentais.

Num outro estudo publicado na mesma revista, uma equipa de cientistas liderada por Shekhar Saxena, da OMS, com sede em Genebra, na Suiça, indica que «o gasto dos Governos na saúde mental na maioria dos países relevantes é muito menor do que o necessário», sendo que, «os países mais pobres gastam as menores percentagens dos seus orçamentos gerais de saúde na saúde mental».